[UXZero] Heurística de Reconhecimento e não recordação
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Sabe quando você bate o olho em uma coisa e logo “saca” o que quer dizer ou o que precisa fazer? Pois é… isso é reconhecimento.
O ser humano está aprendendo constantemente e forma a suas opiniões, visões, comportamentos e reações de acordo com suas experiências. Essas experiências podem ser de educação formal ou tentativa e erro, assim como também pode ser apenas de “ouvi dizer” e que acabou fixando como aprendizado.
Reconhecer algo é colocado como melhor experiência do que recordar, de acordo com as heurísticas de usabilidade, pois recordar significa extrair de um raciocínio estruturado, o que torna essa atividade mais demorada en relação ao reconhecimento.
Um exemplo bem simples: Você reconhece um círculo e um triângulo, assim como reconhece o significado de uma seta para cima ou para esquerda. Porém, você vai demorar um pouco para me dizer como se calcula a área de um triângulo, ou qual é a fórmula de Bhaskara.
Agora que já definimos a diferença entre reconhecer e recordar, em termos práticos, vamos ver como isso se aplica no trabalho de um designer.
Usando o reconhecimento ao seu favor
Não é uma tarefa tão fácil, mas existem vários exemplos que podem ajudar a entender e pensar mais fluidamente sobre aplicações de reconhecimento.
Atenção à cultura do indivíduo, os significados textuais e simbólicos e suas crenças, pois isso influencia e varia sua percepção sobre alguns elementos — semiótica, bem a grosso modo.
Usando símbolos e ícones
Não vou entrar na explicação sobre signo, símbolo, índice e ícone. Porém, só para encurtar o caminho, vou resumir que o símbolo carrega um significado e o ícone é a figura que representa por semelhança.
Vale muito a pena você utilizar desses recursos quando for projetar uma experiência, pois elas reaproveitam os aprendizados mais latentes do indivíduo, fazendo a associação imediata e até eliminando recursos extras.
É bastante comum o uso de ícones representando o sexo e se existe adequação para portadores de necessidades especiais, diminuindo o tempo de identificação por quem já possui o mínimo de noção sobre a sociedade.
Esse último exemplo de placa para banheiros exige um pouco mais de atenção e requer um raciocínio, fazendo com que o usuário possa até se confundir em um momento de “aperto”. Isso tanto por exigir que saiba que M é de mulher e não de “masculino”, quanto por ter que raciocinar sobre o modo de uso.
As placas de trânsito, encontradas nas cidades e nas rodovias, são exemplos de reconhecimento por especialidade. Uma vez que quem não dirige ou nunca leu sobre, dificilmente vai entender alguns significados.
Isso significa que estão erradas? Não! São exemplos de convenções que você pode se apropriar, no caso de estar desenvolvendo algo para um público com aquele conhecimento específico. Assim como acontece em laboratórios químicos, onde existem convenções para rotulagem, armazenamento e símbolos que indicam grau de perigo.
As vezes peca-se pelo minimalismo em algumas bibliotecas de ícones. Isso precisa ser muito bem pensado pois vai exigir validação e, algumas vezes, um auxílio até que o usuário tenha aqueles símbolos como “aprendidos”.
Vários ícones utilizados nos aplicativos atuais se tornaram fáceis de identificação por sua recorrência do uso, mas ainda existem pessoas que vão confundir a lixeira do Material Design com uma prancheta. Assim como não vão distinguir se você utilizar o ADD circunscrito ou dentro de um quadrado.
Cores
Aqui entra uma observação inicial sobre acessibilidade. Não que na sessão anterior não tenha, mas que aqui existe um perigo muito grande de errar e pecar pelo excesso.
Utilizar cores é uma boa abordagem, diferenciando status ou destaques na tela e fazendo com que o usuário tenha uma noção do que está acontecendo antes mesmo de ler as informações. Isso é bastante comum em Dashboards, onde os indicadores bons e ruins já sinalizam ao gestor onde deve prestar atenção naquele momento.
A ressalva da utilização das cores é a mesma de outra estratégia/recurso de símbolos: cultura. Além de ter que se preocupar com as cores não se camuflarem como apenas elementos de uma identidade visual, mesmo que você tenha colocado ali com um significado de destaque intencional.
Complemento: Affordance
Uma última colocação sobre utilizar recursos para reconhecimento é a atenção ao affordance(possibilidade) que isso representa, quando colocado em um cenário convencional de uso.
É comum e muito boa a prática de desabilitar campos que ainda não podem ser utilizados em um formulário, ou que são meramente informativos. Neste último caso é recomendado usar um label e não um campo de preenchimento desabilitado, mas você entendeu onde eu quero chegar :)
Deixar o interagente ciente das possibilidades através de símbolos, cores e recursos de sombra/destaque ajudam na experiência e evitam constrangimentos (além de diminuir chamados de suporte). Isso também bate na porta da consistência, pois caso não há um padrão para indicar quando é e não é possível realizar alguma atividade, você pode estar induzindo ele ao erro sem querer.