Blockchain, Bitcoin e porque o designer deveria saber disso

Jefferson Alex Silva
8 min readSep 1, 2021

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Pessoal descolado em torno do termo crypto e NFT
Os desafios do Blockchain na visão de um designer. Image by Freepik

O Blockchain, na figura do Bitcoin, tem ganhado os noticiários e as rodas de conversa com os amigos. Se você está olhando para esse cenário pensando que é uma moda nerd passageira, coisa de informática ou mais uma pirâmide que logo vai cair é porque você ainda não entendeu do que eles estão falando.

Nesse post eu vou tentar explicar de uma forma prática o uso dessa tecnologia — assim como fiz com o PIX — e dar alguns exemplos da importância dos UX/Service/Researchers saberem lidar com essa “coisa”.

Não é magia, é tecnologia…

Ok, esse bordão me colocou no hall do cringe.

Mas é por uma boa causa, pois é importante saber que você vai aprender alguns termos novos aqui e isso vai te colocar em um nível bom para conversar com desenvolvedores, arquitetos e tech leads ;)

Blockchain, em termos leigos, é como um grande livro caixa.

Essa analogia é mais precisa pois em um documento assim é necessário que todas as operações estejam OK, ou você pode facilmente ter problemas contábeis que são facilmente descobertos por qualquer um que seja um pouco “ligeiro” em matemática.

Livro caixa usado em controle financeiro

Para manter seus registros fiéis é preciso ter a segurança de que o operador sabe o que faz. Então, para garantir que dê tudo certo, você entrega seu livro-caixa sempre para um analista financeiro ou um contador. Esse vai ser competente o bastante para garantir a integridade física e lógica (cálculo dos registros).

Agora, imagine se você pudesse ter milhares de contadores ao redor do mundo que conhecessem bem as suas movimentações, a ponto de responder rapidamente qualquer transação ou suspeita de fraude. Todos eles possuindo as anotações firmadas em cartório, com certificado digital, de que aquilo realmente aconteceu.

Não sei se você conseguiu acompanhar a ideia, mas nesse cenário você poderia tirar o dinheiro da sua carteira e transferir para o seu vizinho sem se preocupar dele dizer que não recebeu ou que você deu menos dinheiro do que está dizendo.

Nesse momento, basta que você diga: pode perguntar para qualquer contador, ele vai te dizer se exatamente quanto, quando e como eu te paguei.

Blockchain é uma corrente de blocos — numa tradução direta — onde é possível ver o registro de todas as transações, contendo uma ligação direta com a operação anterior. Isso gera uma trilha da origem até a posição atual de cada conjunto de dados.

Blockchain é uma cadeia de blocos ligados

Quê??!!

No livro caixa todas as operações possuem uma sequência que é vinculada à anterior. Isso é o que garante a auditoria financeira.

Ex.: A primeira transação registrada pode ser “Peguei $500 emprestado do banco ABC”. A segunda vai ser “Retirei $200 do saldo atual”, depois “Recebi $29.90”… Todas as transações geram uma anotação e possuem relação com a anterior, pois se eu disser em algum momento que paguei uma conta de $1000 e quando eu fizer as contas das transações ficar faltando dinheiro você vai perguntar “De onde veio esse dinheiro”.

É o que a rede de contadores vai gritar: Fraudeeee!!

Tentar desviar/fraudar é facilmente descoberto

Esse aqui é um vídeo que encontrei, onde o autor criou vários conteúdos que tenta explicar os conceitos para novatos. Então achei legal referenciar aqui.

Bom, até aqui a explicação ficou um pouco extensa, mas é necessário para que você entenda sobre o que estamos tratando aqui: segurança e confiança.

Existem várias redes blockchain (Ethereum, Ripple, Tron, com formatos de trabalho diferentes e sempre com o propósito de garantir a confiabilidade e segurança.

Onde entra o Bitcoin nisso ai?

Bitcoin é uma moeda virtual (criptomoeda) em que as suas transações são registradas em uma rede blockchain. O conceito foi colocado ao público por um artigo que trata sobre dinheiro eletrônico que não dependa de agentes financeiros, atribuído a Satoshi Nakamoto (que ninguém sabe realmente quem é).

Satoshi Nakamoto é um anônimo criador do Bitcoin

Dá uma lida no artigo traduzido AQUI.

O conceito de moeda e valor monetário é importante aqui, pois estamos falando de algo que serve para trocar por outras coisas. O dinheiro é apenas uma abstração de valor, substituindo o que fazíamos antigamente quando se trocava 2L de leite por 1kg de feijão.

Escambo é tão comum que virou conto de fadas

Eis que em algum momento surgiu uma entidade que regula quantos litros de leite valem o quilo de feijão, cobrando uma taxa por registrar essa operação ou só pelo fato de você ter realizado essa transação de bens.

Pois bem. O valor de uma coisa aumenta ou diminui numa dinâmica de oferta e procura. Sendo que quanto menos oferta existe de algo muito procurado, o valor tende a ser alto. Da forma contrária também, podendo o valor de algo ser muito baixo só pelo fato de ser muito fácil de adquirir.

Quando a oferta é pouca e a demanda alta, a treta começa

Você não pagaria um raio de sol, mas certamente já pagou por uma sombra de guarda sol.

Dito isso, é importante dizer que não existem infinitos Bitcoins. Não!

Existe uma quantidade limitada (21 milhões, apenas) e, assim como é limitada a quantidade de leite que uma vaca pode dar por período, o valor disso vai subir quando a dificuldade de adquirir aumenta. Assim também é a moeda local de onde você mora, senão ocorre o que se chama inflação e o escambau.

Em analogia ao papel moeda impresso pela autoridade monetária, o Bitcoin tem origem nas transações realizadas, chamadas de mineração. Mesmo possuindo um custo (tempo, esforço e energia elétrica) para ser “gerada”, essa moeda tem seu valor alterado pelas movimentações do mercado (oferta, procura e, claro, especulações).

É preciso ter regras para existir uma moeda

Por último, uma característica dessa moeda virtual que transita pela rede é o anonimato do portador. Sendo garantida a segurança e confiança dada pela rede, o Bitcoin (e outras criptomoedas) é de quem tem a posse da chave/carteira no último registro feito. Sem nomes, sem endereços, nem identificadores… apenas um código (bem grande, inclusive).

Tá, mas e o designer faz o que com isso?

A aplicação dessa tecnologia que garante segurança e confiança pode ser utilizada em diversas aplicações, onde hoje somos obrigados a confiar em uma entidade que dê um carimbo de “verificado”.

Exemplos:

Que tal não precisar de um cartório para garantir que esse documento realmente é o original? É o que está acontecendo e estamos tendo contado publicamente com o nome de NFTs, possibilitando a autenticidade e originalidade de coisas.

Autenticar a originalidade não precisa ser tão burocrático

Eu não precisaria ter que levar todos os meus documentos para garantir que o nome da minha mãe está errado no meu RG, pois basta validar na rede e comparar se o código gerado pelo meu e-CPF valida a cadeia de alterações. (essa explicação é mais abstrata mesmo, não se preocupe se não entender)

Já que a rede sabe que recebi $10.000 da carteira HFAB00F de posse da Empresa ABC, porque preciso de uma conta em um banco?

É só pegar que tá tudo certo com o livro caixa

Alguns desafios foram expostos enquanto eu tento escrever esse texto de uma forma fácil, com analogias e que ficou muito extenso. Em resumo, não é fácil explicar para um público leigo sobre o uso e questões de segurança aqui.

O governo já possui algumas iniciativas que utilizam blockchain, sendo que algumas são para garantir a confiança de documentação e outras com a tentativa de uma “moeda” virtual.

O DataPrev — sim, aquele que cuida do nosso INSS — possui um serviço de Blockchain as a Service (BaaS), tendo como um dos produtos o b-CPF que está disponibilizado pela Receita Federal.

Blockchain CPF da Receita Federal

Dá uma olhada AQUI

Os golpes, as fraudes e a falta de informação

Certamente você já deve ter ouvido ou lido algo sobre blockchain e Bitcoin atrelado a uma notícia de golpe financeiro, fazendo com que a impressão mais popular sobre esse assunto seja de que é coisa de quem entende de informática e muito próximo de uma “Avestruz Master” (esse é um belo exemplo cringe kkkkk).

Temos um histórico no Brasil de pirâmides e os golpistas sabem disso

Isso se dá pela desinformação e é um grande cenário onde a explicação sobre os produtos, benefícios e facilidade de uso fazem toda a diferença no combate a ignorância.

Assim como a imagem do PIX foi trabalhada como algo fácil, útil e seguro por diversas empresas (financeiras e de bens), é necessário termos um olhar atento para como podemos tratar as aplicações com blockchain e desviar dos oportunistas.

O golpe tá ai…

O golpe mais conhecido, envolvendo criptomoedas é o de falsas corretoras, ou Crypto Traders. Nesse cenário os golpistas se valem da falta de informação dos investidores, solicitando depósitos com o discurso de que estão ganhando com as oscilações do Bitcoin, mas o que eles fazem é embolsar esse valor depositado pois não existe regulamentação e esses golpistas nem sequer possuem uma corretora registrada na CVM.

Bitcoin não é uma coisa que obedece uma estratégia de ações, nem é fácil de prever quando acontecem aquelas altas que todo mundo fica sabendo e cresce o olho para ficar rico kkkk.

Enfim…

Um último ponto para deixar uma luz sobre as aplicações de blockchain é a popularização de NFT (tokens não refutáveis), onde a lógica é a mesma do que expliquei ali sobre a autenticação de uma documentação em cartório ou registro de originalidade.

Um garoto já ficou rico criando NFTs de suas obras digitais

Sabe no que isso pode ser útil? Na facilidade de você, designer, registrar uma obra/criação sua facilmente e depois poder correr atrás da galera que copiou/replicou sem a sua autorização. Coisa que hoje depende de uma entidade de registro, formulários e grana para registro.

Já existem jogos que rodam nas redes de blockchain, utilizando a lógica de registro para garantir a segurança das transações e gerar moedas.

Bom… é isso. Ficou grande o post, mas era algo que eu queria escrever para tentar explicar esse universo. Certamente esse é um assunto muito maior do que eu consegui falar, mas é um exercício e aos poucos isso vai ficando mais fácil e claro nas explicações.

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